A ousada aposta do Real Madrid em (tantos) jovens e a “Síndrome Neymar”

Gêra Lobo
5 min readJan 15, 2020

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Com a ascensão “prematura” de jogadores em cenários nacionais e internacionais, os grandes clubes do planeta sempre tentam garimpar o mais rápido possível os principais talentos do futebol. Quem mais vem se destacando nisso é, sem sombra de dúvidas, o Real Madrid. Por mais que seja interessantíssimo a estratégia, ela também pode acabar acarretando em “problemas” devido a sua organização.

Bom, contratar jovens promessas do futebol é um planejamento a longo prazo, como forma, claramente, de ter uma base forte para o futuro, ainda mais em clubes com a demanda do Real Madrid, de sempre vencer e ter elencos mais fortes possíveis para disputar completamente tudo. Essa estratégia de ir atrás desses prospectos com alto potencial não foi ao acaso, e começou mais exatamente após a temporada 13/14 e na metade da 14/15, que foi, inclusive, a de La Décima e eu vou explicar.

Uma das maiores “disputas” entre Real Madrid e Barcelona na última década não foi em campo, mas sim fora dele, e mais exatamente sobre um jogador brasileiro de muito potencial: Neymar. Florentino Pérez, presidente do Madrid, e Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, travaram uma briga fortíssima nos bastidores para seduzir Neymar, que acabou, depois de muito pensar, optando pelo clube da Catalunha, o que deixou Florentino altamente “incomodado”, ainda mais após ver o sucesso dele. E aí começamos uma história de amor do presidente merengue com jovens talentos.

Tudo começou com esse moço da foto acima, que hoje encanta tantos amantes do futebol europeu. Martin Odegaard era apontado como uma das grandes promessas do futebol mundial e Florentino foi rápido, contratando o meia que tinha recém completado 16 anos, o que até rendeu uma punição pro Madrid, mas valerá a pena. Mas enfim, o norueguês foi apenas o início da obsessão de Florentino por jovens talentos, e já já entramos na questão da “Síndrome Neymar”.

Depois de Odegaard, o Real Madrid continuou trazendo jovens talentos janela após janela. Na 15/16, Mateo Kovacic (21), Jesús Vallejo (18) e Marco Asensio (19) foram as principais. Na seguinte, destacamos Federico Valverde (17), que viria a ser esse destaque gigantesco. Na 17/18, Theo Hernandez (19) e Dani Ceballos (20) foram contratados, sendo que o primeiro nem está mais no clube e o segundo não parece agradar tanto Zinédine Zidane.

Aí chegamos na temporada 18/19 e a “Síndrome Neymar” começa a dar seus passos. Ela nada mais é a obsessão de Florentino Pérez em fechar com os principais talentos brasileiros em busca de, em tese, achar um “novo Neymar”, o que sabemos que é bem complicado. O primeiro dessa leva foi Vinicius Jr. (18), que chegou junto de outros nessa mesma temporada, como Andriy Lunin (19), Brahim Diaz (19) e Alvaro Odriozola (22). Estão contando a quantidade jogadores com 22 anos ou menos, certo?

Já na atual temporada, seguimos a saga de Florentino no Brasil com Rodrygo (18) e mais uma vez entra na questão da síndrome, ainda mais porque foram duas janelas seguidas. Além dele, Luka Jovic (21), Eder Militão (21), Takefusa Kubo (18) e Alberto Soro (20). É gente demais, meu amigo. E ainda tem mais: por fim, fechamos (ou não, depende do futuro) a “Síndrome Neymar” com o futuro reforço merengue: Reinier (17), mais um brasileiro com altíssimo potencial e que chegará em breve ao clube merengue. Agora entenderam a síndrome, né? E não sei se vai acabar por aí.

Mas o grande ponto é: como o Real Madrid vai conseguir organizar e utilizar todos esses garotos citados? A forma como o clube vai lidar com a evolução de cada um é a grande questão, pois é um exagero a quantidade jovens indo ao clube. Eles precisam de tempo de jogo para evoluir, mas sabemos que o Madrid, além dos garotos, também sempre está de olho nos melhores do mundo, e, de vez em quando, chega um ou outro, como Eden Hazard. Isso pode atrapalhar demais a evolução desses jovens jogadores, que, a maioria, foi contratado por um preço bem elevado. O custo benefício pode acabar não sendo o esperado pelo clube.

A minha preocupação é exatamente como o clube vai cuidar de cada um desses caras. Florentino deveria dar uma segurada nas contratações de jovens talentos, pra não encher os setores do time e não conseguir dar o tempo necessário para cada um. Como vai organizar um ataque que terá peças como Asensio, Brahim, Kubo, Rodrygo, Vinicius Jr, Jovic e Reinier? Em tese, só três, ou no máximo quatro, jogam. E vale lembrar do amor do clube por Mbappé, que talvez chegue no futuro. Eu entendo a necessidade de buscar os melhores talentos do mundo para um clube como o Real Madrid, pensar no hoje e futuro, mas é preciso saber planejar isso tudo e não gastar de maneira exacerbada.

A aposta em jovens talentos é correta. Isso aí é o que todo grande clube deve fazer para se manter no topo sempre, pois o futuro é o agora também. Porém, no caso do Madrid, é uma estratégia altamente arriscada pela forma até desalinhada que o clube vem fazendo isso. Precisa ter uma ideia melhor de como utilizar cada um dos jovens, e olha como tá a distribuição de um possível elenco no futuro do clube (máximo de 27 anos):

Goleiros: Thibaut Courtois (27) e Andriy Lunin (20)
Laterais-direitos: Álvaro Odriozola (24) e Achraf Hakimi (21)
Zagueiros: Raphael Varane (26), Jesus Vallejo (23) e Éder Militão (21)
Laterais-esquerdos: Ferland Mendy (24) e Sergio Reguilón (23)
Volantes: Casemiro (27) e Fede Valverde (21)
Meias: Isco (27), Dani Ceballos (23), Martin Odegaard (21) e Oscar Rodriguez (21)
Pontas: Marco Asensio (23), Brahim Diaz (20), Alberto Soro (20), Vinicius Jr. (19), Rodrygo (19) e Takefusa Kubo (18)
Centroavantes: Mariano Diaz (26), Luka Jovic (22) e Borja Mayoral (22)

São incríveis 24 jogadores com 27 anos ou menos que o Real Madrid tem nas mãos entre os principais, sem contar alguns outros jogadores do Castilla que não tiveram muitas chances. Entenderam o que falo? Precisa se organizar pra utilizar a maioria desses jogadores. Desses 24, 17 tem 23 anos ou menos. É impressionante. E vale lembrar que os “medalhões”, como Sergio Ramos, Marcelo, Benzema e Kroos não tem hora pra parar e são titulares absolutos, então nem adianta apressar o passo pra reformulação. Agora é saber como a direção do clube e, principalmente, Zidane vão saber organizar isso tudo, que é uma tarefa árdua. Mas vale ressaltar: talento o clube tem de sobra.

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Written by Gêra Lobo

Apenas mais um buscando seu espaço. Pensamentos profundos sobre esportes, principalmente futebol e basquete, e cultura pop também. Twitter: @gerinhalobo_

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