Times espanhóis históricos #2: Deportivo La Coruña 2003/04

Gêra Lobo
5 min readMay 9, 2019

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Após falar do Villarreal de Riquelme e Forlán, chego aqui com a segunda edição do quadro que fala de times históricos do futebol espanhol. Dessa vez, o destaque fica por conta de um time que não passa por um momento tão bom assim atualmente, mas que, no final do século XX/começo do século XXI, foi uma das quatro maiores forças do país, ao lado de Real Madrid, Barcelona e Valencia.

Estou falando do Deportivo La Coruña, que teve excelentes temporadas no final dos anos 90 e início dos anos 2000, com direito a título da La Liga (1999/00). Em meio a um nível altíssimo de desempenho e resultado, escolhei uma temporada em especial para falar da equipe da Galícia: a 2003/04, que foi de uma surpresa por vários fatores.

Time base de Javier Irureta naquela temporada

Se pegarmos nome por nome, o Deportivo pode não parecer tão amedrontador assim, mas a base e o coletivo da equipe era tão eficiente e obediente com Javier Irureta no comando que conseguia bater de frente contra qualquer time. Numa espécie de 4–2–1–3, com muita força de combate e marcação com a dupla Mauro Silva e Sergio González, a equipe era bem segura, cedendo pouco espaço por dentro aos adversários. Luque não era um jogador que fazia uma recomposição tão qualificada, o que obrigava Mauro Silva a estar sempre ligado nas coberturas. Victor não era lá um ponta e sim um meia aberto com boa obediência tática e profundidade pra atacar.

Por dentro, Valerón era a cabeça pensante do time, pisando muito bem na área, aparecendo, às vezes, como um elemento surpresa e preparando as jogadas para os atacantes, sempre atrás de Pandiani. Na defesa, uma linha de 4 bem sólida, com destaque para o zagueiro marroquino Noureddine Naybet, um dos grandes nomes daquela equipe. Era um time com bom talento técnico e boa obediência tática. Vale lembrar que no banco ainda tinha Djalminha, que tinha feito história em anos anteriores, sendo o grande craque do time, e Diego Tristán, que revezou com Pandiani no ataque algumas vezes.

Victor Sanchez e Valerón, dois dos principais jogadores do time

Agora é hora de falar da temporada em termos de resultado dos Turcos. Começando sobre a Copa do Rei, foi até uma decepção pela forma precoce como o Depor foi eliminado, logo nas oitavas de final pelo Atlético de Madrid, com direito a dois empates, mas o 1 a 1 no Riazor classificou os colchoneros.

Passando para La Liga, o Deportivo fez um campeonato espetacular do início ao fim. Sendo a segunda melhor defesa da competição, sofrendo 34 gols, 7 a mais que o Valencia, que foi o campeão, o Depor se mostrou consistente durante toda a competição, terminando na terceira colocação, na frente, inclusive, do Real Madrid e um ponto atrás do vice-campeão Barcelona. Vale destacar que o clube passou quase que a temporada toda jogando duas competições simultaneamente e com um elenco, de certo modo, limitado. Simplesmente fantástico.

Para finalizar, vamos falar da parte que mais importa: a campanha história na Uefa Champions League daquela temporada. Para começar, vale lembrar que o Depor entrou na pré-Champions, onde sofreu muito, empatou em 0 a 0 na ida, em casa, mas eliminou o Rosenborg, com um 1 a 0 na Noruega. Um sofrimento bem além do esperado.

Passado a dificuldade de adentrar a fase de grupos, vamos ao que interessa. Em um grupo extremamente complicado e imprevisível, o time da Galícia ficou ao lado de Monaco, PSV e AEK, que serviu apenas para cumprir tabela, pois não venceu ninguém. E como foi difícil essa classificação pro Depor. A equipe terminou com 10 pontos, mesma pontuação do PSV e se classificou pela vantagem no confronto direto, já que venceu por 2 a 0 na Espanha e, mesmo perdendo por 3 a 2 na Holanda, se classificou. Eliminou um PSV que tinha caras como Mark van Bommel, Arjen Robben e Park Ji-sung. O Monaco foi o líder com 11.

Só que a história espetacular do time de Irureta começou a ser escrita a partir das oitavas de final. Pela frente, a gigante Juventus, que havia sido vice-campeã na temporada passada. Problema? Nenhum. Com direito a vitória na Espanha e na Itália, ambas por 1 a 0, com gols de Luque, na ida, e Pandiani, na volta, o Depor despachou a Vecchia Signora e seguiu firme, contra todos os prognósticos.

Quer mais? Pois toma. Se já foi complicado encarar o atual vice-campeão, que tal o atual campeão e o segundo clube com mais conquistas na história da competição? Bom, essa história não poderia ser escrita nem pelo maior sonhador e torcedor do Depor. Pela frente tinha o todo poderoso Milan, de vários craques históricos, como Kaká, Paolo Maldini, Andriy Shevchenko, Andrea Pirlo, Cafu, Dida, entre outros. Era o atual campeão, que fez o primeiro jogo na sua casa e enfiou um sonoro 4 a 1 para mostrar quem manda. Tudo acabado? Não para esse Deportivo.

Na partida de volta, em um Riazor simplesmente entupido, o “eu acredito” nunca foi tão alto. A missão era complicadíssima, mas não impossível. Fazer três gols em um time que só tinha tomado cinco na competição inteira e tinha caras como Nesta, Maldini e Dida era uma tarefa árdua… mas e fazer quatro? Dito e feito. Em uma noite simplesmente mágica, provavelmente a mais histórica para o clube, um 4 a 0 dominante, com direito a 3 a 0 só no primeiro tempo, garantindo a classificação fantástica, inimaginável e, repito, histórica. Uma das grandes viradas da história do futebol.

Valerón foi um dos grandes responsáveis pela virada

Passada a euforia pela classificação, era hora de sonhar mais e mais. Pela frente o Porto de José Mourinho, em um duelo bem franco entre dois times que queriam fazer história. Na ida, em Portugal, um 0 a 0 que encheu de ansiedade e esperança a torcida do Depor, exatamente por poder decidir em casa. Porém, um gol de pênalti do brasileiro Derlei acabou com o sonho e classificou os portugueses para a final, que, no final das contas, foi importantíssimo, já que o Porto foi campeão contra o Monaco.

Foi uma temporada simplesmente mágica para o Depor. Competitivo em todos os sentidos, quase conseguindo o, considerado por muitos, impossível, que era chegar e vencer uma final da Uefa Champions League. Além disso, terminar em terceiro, mesmo com um elenco, de certa forma, raso, na terceira colocação da La Liga. É um daqueles times que você olha para trás e sabe que deixou sua marca gigantesca na história do futebol espanhol.

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Written by Gêra Lobo

Apenas mais um buscando seu espaço. Pensamentos profundos sobre esportes, principalmente futebol e basquete, e cultura pop também. Twitter: @gerinhalobo_

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