A Espanha não vive só de Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, como muitos costumam dizer. Vários times de fama menor costumam dar muito trabalho, não só no seu país, mas também em questões fora da Espanha. Com isso, começo aqui uma série falando de times espanhóis com temporadas históricas, contando não só suas atuações nacionais, mas também internacionais. Para sair do clichê e trazer material diferente, não irei incluir os três times de ponta já citados no início do texto.
Nessa primeira edição, o time que será contada a história é o espetacular Villarreal da temporada 2005/06. O que mais impressiona é que, mesmo sendo, nos dias atuais, um time que sempre comparece em competições europeias e faz boas campanhas, mesmo com dificuldades na atual temporada, o Submarino Amarelo só virou um clube com presença efetiva na primeira divisão a partir deste século, na temporada 2000/01, em sua segunda participação pela La Liga. Antes disso, sempre tinha disputado quarta, terceira e segunda divisão.
Essa ascensão do time amarelo aconteceu de maneira bem rápida até, com uma sétima colocação em 00/01. Porém, as duas temporadas seguintes foram de sofrimento, com o time terminando, em ambas, na 15º colocação. Só que esses sustos fizeram com que o time acordasse de vez, garantindo uma oitava colocação na temporada 2003/04 e uma incrível terceira posição na temporada seguinte, o que garantiu a vaga na Uefa Champions League, e agora entramos de vez na história.
Aquele time do Villarreal era especial, além de ter um técnico excelente. A montagem do elenco para uma temporada cheia foi até questionada por conta de alguns nomes que não passavam tanta confiança assim a um time que iria disputar Champions pela primeira vez, como Josico, Viera e Juan Manuel Peña. Porém, também contava com nomes de peso, que podiam resolver nos momentos críticos, tendo como exemplo Riquelme e Forlán. Era um time que, se você pegasse o elenco como um todo, tinha um time até meio raso, com nem tantas peças de reposição e variações. Mas, a genialidade de Manuel Pellegrini falava mais alto e ele fazia com que o time rendesse da melhor maneira possível.
Era um time que, surpreendentemente, tinha uma consistência defensiva muito boa, com destaque para os laterais Javi Venta e a lenda argentina Arruabarrena, mesmo não sendo espetacular, e um ataque extremamente produtivo e efetivo. O talento do brasileiro/espanhol Marcos Senna na saída de bola, somado a profundidade e inteligência de Sorin, a genialidade, criatividade e criação de Riquelme, além das finalizações fantásticas de Forlán eram os grandes responsáveis de um time com mecanismos tão bem assimilados e eficientes. Muitos gols foram criados a partir desta sequência. Do elenco, também vale destacar dois nomes: Santi Cazorla, que começava sua carreira, e Javi Calleja, atual técnico da equipe.
Agora vamos falar da temporada do time de Manuel Pellegrini. Em La Liga, o sucesso da temporada anterior não foi repetido, muito pela consequência que eu falei: o time não tinha lá um elenco muito profundo. Peças de reposição durante uma temporada tão cheia e longa eram complicadas para um time que, mesmo com grandes jogadores, não tinha muito dinheiro. A grande inteligência da diretoria foi pegar nomes sul-americanos com qualidade e não tão caros, como Riquelme, que estava no Boca, e Forlán, em baixa na sua época de Manchester United. Mesmo assim, o time terminou na sétima colocação no nacional, garantindo vaga para a finada Copa Intertoto, sofrendo apenas 39 gols durante a competição e marcando 50. Na Copa do Rei, decepção total, sendo eliminado nas oitavas para o rival Valencia.
Mas a grande façanha veio na sua primeira participação na maior competição entre clubes do planeta. Entrando na pré-Champions, o Submarino Amarelo teve pela frente logo o Everton, mas venceu tanto na ida, na Inglaterra, como na volta, ambos por 2 a 1, garantindo seu lugar na frase de grupos. Nesta fase, um grupo bem pesado, com Manchester United, Benfica e Lille. Problemas? Alguns, mas a equipe conseguiu se classificar na primeira colocação, invicta, sofrendo apenas um gol e marcando três. Sofrido, mas como valeu a pena.
Nas oitavas, muita dificuldade contra o Rangers, onde o time espanhol se classificou com dois empates, o primeiro 2 a 2 na Escócia e o 1 a 1 na Espanha, sendo que, no segundo jogo, o Villarreal saiu atrás e conseguiu empatar. As quartas chegaram e um adversário tradicional pela frente: a Internazionale. Mais uma vez o Submarino Amarelo teve a chance de decidir em casa e como usou bem tal fator. Na ida, a derrota por 2 a 1 de virada, mas como aquele gol de Diego Forlán, com um minuto de jogo, foi importante. Na volta, vitória simples por 1 a 0, com Arruabarrena, que também tinha feito o gol da classificação contra o Rangers, decidindo.
Agora vamos a um momento que faz o coração do torcedor do Villarreal doer… bastante. Semifinais da Uefa Champions League 2005/06 contra o Arsenal de Thierry Henry, que fazia uma campanha perfeita, sem nenhuma derrota e sofrendo apenas dois gols, nenhum deles na segunda fase, onde tinha eliminado Real Madrid, nas oitavas, e Juventus, nas quartas. Na ida, em um jogo bem nervoso, vitória dos ingleses por 1 a 0, com gol de Kolo Touré. Tudo aberto para a volta no El Madrigal.
No duelo de volta, muita tensão para o, até hoje, jogo mais importante da história do Villarreal. Jogo quente, nervoso, com os espanhóis em cima e buscando fazer gol num time extremamente qualificado defensivamente. Até que, após bola na área, Clichy faz carga em José Mari e o árbitro marca pênalti para os donos da casa. Riquelme, grande craque do time, na bola e… Lehmann defende. O lance capital da partida, que poderia ter mudado tudo, foi desperdiçado pelo camisa 8 e o Villarreal, um time aguerrido, que lutou até o fim, dava adeus a sua história de “Cinderela”.
Pode parecer pouco o que esse time de Pellegrini fez em 2005/06, mas essa temporada serviu para colocar o Villarreal em outro patamar. Foi um time que fez história sim, ainda mais se tratando de um pequeno espanhol (na época). Até o século passado, era um time jovem, de segunda divisão. Após isso, o time cresceu demais e virou um time respeitado não só na Espanha, mas também na Europa, tanto que já chegou em semifinal de Uefa Europa League.